sábado, 19 de dezembro de 2009

Copenhague, um escândalo histórico


Não se deixe enganar pelas aparências se todos os discursos políticos dos 193 chefes de Estado e de governo ressaltarem os avanços da a 15a Conferência do Clima (COP-15) das Nações Unidas. As declarações visam a tornar menos evidente para a opinião pública mundial que a maior reunião diplomática da história, realizada durante os últimos 12 dias, em Copenhague, é também o maior fracasso da história das negociações contemporâneas sobre a questão climática.

Aliás, é mais do que isso: é um escândalo.

Pasme: o texto “aprovado” por Estados Unidos, China, Brasil e Índia ainda não existe. Negociadores estão neste momento, 0h34min em Copenhague – 21h34min em Brasília – tentando encontrar mínimos consensos para justificar em um documento o que “líderes” acordaram sem ler.

A própria sobrevivência do Protocolo de Kyoto – o único mecanismo minimamente eficaz de política climática já elaborado – e de seu irmão natimorto, o documento que vinha sendo produzido há dois anos no grupo de trabalho LCA, está ameaçada nesta noite assustadora, em Copenhague.

A COP-15, cujos procedimentos formais prosseguem no Bella Center, terá como resultado um texto sem força de lei, com metas enfraquecidas de redução das emissões de CO2, sem instrumentos de financiamento, sem meios de verificação das ações ambientais nos países emergentes. A lista de falhas poderia se estender por várias páginas, e cada um de seus parágrafos deixaria claro que são vãos os esforços que presidentes como Barack Obama, dos Estados Unidos, e Nicolas Sarkozy, da França, estão fazendo para explicar o inexplicável.

A conferência de Copenhague, desenhada há dois anos, na COP-13, em Bali, na Indonésia, deveria marcar o apogeu da maturidade dos líderes políticos mundiais, convencidos pela gravidade da ameaça do aquecimento global – cada dia mais comprovada pela comunidade científica. O resultado, entretanto, é o inverso: prova que a economia, a geopolítica, as rivalidades nacionais ou a simples desconfiança mútua – originada na Guerra Fria, no caso da clara oposição entre Estados Unidos e China –, ainda são preponderantes.

Não bastasse, a dimensão do impasse nas negociações da COP-15 e o discurso de Obama a jornalistas norte-americanos – aliás, por que o presidente dos Estados Unidos não pode atender à imprensa estrangeira? – revelam mais: um dos pilares da Convenção do Clima, assinada no Rio de Janeiro, em 1992, está em xeque. O princípio da responsabilidade comum, mas diferenciada, pelo qual países industrializados admitiam sua culpa histórica pela poluição que jogaram na atmosfera, não será mais a regra básica do jogo em uma próxima COP.

Se houver uma próxima COP.

Fonte

Um comentário:

Carolina Daemon Oliveira Pereira disse...

Parabéns, adorei sua cobertura e te citei como fonte na "menina".
http://caroldaemon.blogspot.com/2009/12/cop-15-e-o-que-ainda-pode-ser-feito.html

abs e feliz natal